domingo, 20 de fevereiro de 2011

"Amadurecência" - Fernando Anitelli


“A poesia prevalece!!!
O primeiro senso é a fuga.
Bom...
Na verdade é o medo.
Daí então a fuga.
Evoca-se na sombra uma inquietude
uma alteridade disfarçada...
Inquilina de todos nossos riscos...
A juventude plena e sem planos... se esvai
O parto ocorre. Parto-me.
Aborto certas convicções.
Abordo demônios e manias
Flagelo-me
Exponho cicatrizes
E acordo os meus, com muito mais cuidado.
Muito mais atenção!
E a tensão que parecia nunca não passar,
“O ser vil que passou para servir...
Para discernir...”
Para harmonizar o tom.
Movimento, som
Toda terra que devo doar!
Todo voto que devo parir
Não dever ao devir
Não deixar escoar a dor!
Nunca deixar de ouvir...
com outros olhos!”

No fim do ano de 2010, Amãnda e eu vivenciamos essa poesia. Medo, (quase) fuga, inquietação e tudo o que vemos aí. A sensação de sufoco, de angústia, de prisão... Mas passou. Passou e aprendemos. Não tudo, mas muito...

"Porta Estandarte" - Geraldo Vandré


“Olha que a vida tão linda se perde em tristezas assim
Desce o teu rancho cantando essa tua esperança sem fim
Deixa que a tua certeza se faça do povo a canção
Pra que teu povo cantando teu canto ele não seja em vão

Eu vou levando a minha vida enfim
Cantando e canto sim
E não cantava se não fosse assim
Levando pra quem me ouvir
Certezas e esperanças pra trocar
Por dores e tristezas que bem sei
Um dia ainda vão findar
Um dia que vem vindo
E que eu vivo pra cantar
Na avenida girando, estandarte na mão pra anunciar.”

Houve uma época da minha vida em que eu sofri de uma tristeza terrivelmente corrosiva. Sozinha em casa, eu precisava ouvir algo por que o silêncio estava a me sufocar. Optei por Geraldo Vandré. Na ordem do CD, "Porta Estandarte" é a sexta música. Quando os tambores começaram anunciar o samba de avenida, eu decidi prestar atenção na música e me deparei com um conselho que eu segui e sigo ainda.

"A Rosa de Hiroshima" - Vinícius de Moraes


Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada

Essa poesia até hoje água os olhos daqueles que conhecem o trágico destino que as vítimas das bombas atômicas encontraram.
Na brilhante interpretação como música por Ney Matogrosso traz à tona todo o sofrimento e o pesar da análise dessa catástrofe inumana que a Terra presenciou.